Esperança

esperanca
Às vezes sufocada,
mas nunca desfalecida.
Ao longo dos anos
lutei por essa relação.
Carreguei-a como um diamante,
mas também a tratei como uma pedra sem valor.
Algumas vezes, adornei-a de belos sonhos,
outras a perfurei com o real.
Aprendi a ser sua amiga
e também a virar-lhe as costas.
Alimentei-a e deixei-a com fome.
Por cada caminho desses
enfim entendi…
Tudo isso foi importante,
passei a me pertencer.
Descobri que sua presença é a vida em mim.
Quando quis o silêncio,
você me convidou para dançar.
No meu âmago, um sinal germinou
sendo estas as insígnias:
“A valsa não acabou
minha amada criança.
Eis aqui a sua companheira de dança,
muito prazer, a Esperança”.
Gabriela Lopes

O que realmente importa?

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Inevitável o tempo não passar.

Inevitável não pensar sobre o ano que se finda.

Sai ano, entra ano e,

A reflexão sempre retornará.

Ano grande, repleto de desafios e dificuldades.

Construído em sede de realidades que trouxeram vidas e partidas.

Ah vida sem jeito!

Revela impetuosa pressa em passar.

Ninguém nota ao certo como foi,

Só percebe olhando para os meses que insistem em findar.

Mesmo sem jeito, com ela, me ajeito,

E encontro um ponto de contentamento

Em meio as badaladas do relógio e o trepidar dos passos diários.

É gratificante notar que suas semeaduras dolorosas

Brotam nos arvoredos da vida com “verde” e graça.

Mas, no fim, o mais importante de tudo,

Realmente é a capacidade de tocar outras vidas.

Trazer esperanças e inspirar renovações.

Objetos e títulos…

Seguindo a matemática necessária

Todos têm, todos usufruem.

O que realmente importará?

A vida real está condensada no centro de tudo isso…

Os rostos preocupados e ansiosos,

A mão estendida para aquele que prateia,

A atitude humanizada ao corpo cansado da jornada,

A faxina nas palavras para o bem do seu ambiente interno,

A influência que seu modo de viver exerce sobre outra vida,

A alegria de ser gente, em meio a outras gentes

Buscando apenas seguir,

Doando vida, para a sua própria pulsar dentro de si.

Essa sim, é a matemática existencial.

Nesse cálculo de batidas pulsantes,

Neste ano representado por números no calendário,

Nas voltas do relógio, seguindo novamente seu itinerário,

Será que a soma da conta alcançou um saldo positivo?

Onde quem mais deu que recebeu, somou a si próprio,

Quem viveu, alcançou acima de tudo,

Em 365 dias, a construção de um ser menos egoísta

Mais altruísta e honesto consigo mesmo.

Talvez ainda não tenha sido dessa vez,

E o ano não lhe proporcionou essa evolução,

Mas, cuidado!

Sem a devida atenção,

Com plena certeza que tens tempo de sobra,

Ele passa uma “rasteira” e lhe cobra

Revelando quem é servo e quem é senhor.

Reconcilie com o tempo,

Sempre é tempo.

Sempre há tempo?

Sempre se pode criar algo

Com a vida que ainda tem em mãos.

Finalize mais um ciclo

Com esperança na jornada

E paz no coração.

Gabriela Lopes

Aprendendo com as aves

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Ela estava sentada na escadaria externa da Igreja São Francisco,
alguns passarinhos pousavam no solo histórico.
Na rua observada abaixo da muralha de pedra,
passavam bicicletas, motos, carros.
Os pássaros voaram com o barulho da moto.
Ela os acompanhou com os olhos.

As aves decolaram, os pensamentos dela também…
Bichinhos tão frágeis, ariscos, porém belos e majestosos.
Assustam-se fácil, cautelosos, afastam-se.
Seu voo representa a defesa que possuem,
em lugares altos se protegem.
Lá, não os alcançamos.
Interessante analogia se pode fazer…
Andando pelo gramado em frente à igreja,
famílias, crianças, casais, amigos, fotografias…

Qual será a diferença da nossa ousadia ou temor
se comparado às aves?
Acho que estas têm um ensinamento a deixar.

As pessoas avistadas,
frágeis, por vezes ariscas à vida e ao novo.
Medrosas, inseguras, cismadas; contudo belas e,
Nesse conjunto, majestosas.
Coragem… Será que esta é a resposta
para o humano se resguardar em lugares altos?
Coragem não representa a ausência do medo,
Significa atitude mesmo temendo…
Seres opostos: o corajoso e o covarde.
As aves agiram, elas voaram.
Com medo dos sons, das pessoas, do desconhecido.
Pássaros,
pessoas,
vidas curtas e
sensíveis.

Despedia-se da arquitetura contemplada.
O escultor era, sem dúvida, dotado de coragem.
Transformou-se em trechos da história
através das ações e criações.
Ela percebia que, ao longo dos dias,

Tornara-se parte das aves daquele gramado.
O ambiente se apresenta hostil?
Retire-se, aja de longe, cante graciosamente a seu modo.
Refugie-se alçando voos e assim pousará em lugares altos.

 Gabriela Lopes

O QUINTAL DA NOSSA AVÓ

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Lembrança boa que me acomete…

Há alguns anos a euforia da infância se destacava.

Meu primo e eu inventávamos de fazer um clubinho.

E com muita dedicação começávamos essa empreitada.

Para nós, era assunto sério.

 

Havia um chiqueiro despovoado,

As criações não existiam mais ali.

Estrutura de concreto perfeita com paredes

Para a imaginação que borbulhava.

E essas crianças pintavam o sete.

 

Caladinhos, com esmero,

Vassouras, esfregões, desinfetantes e sabão em pó.

Tudo da dispensa da avó.

Mal sabia ela da obra que se iniciava no quintal.

Esperançosos, eles imaginavam até recebendo os amigos.

 

Limpeza feita, teto de lona colocado,

Tudo concluído e caixas de sabão vazias.

O engraçado era a seriedade que se falava do clubinho.

 

E para surpresa da avó,

Vendo o que os netos fizeram,

Irritada e rindo da ideia,

Conclui com humor:

“Primeira vez que vejo um chiqueiro limpo.”

“Cadê meu sabão em Pó?”

Gabriela Lopes

Impecáveis imperfeições

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Andei pensando um “bocado” e,

A cada curva da vida

Infelizmente percebo que

As “esquinas” estão cheias de deficientes.

 

Triste reflexão,

A deficiência é afetiva, 

Ligada a cada história.

Na margem molham os pés,

Na margem permanecem.

 

De tantas experiências tocadas,

Percebo que os ditos deficientes

Pelos padrões da sociedade

São repletos de amor.

 

Um autista não é deficiente, 

Eles entendem como ninguém a arte de amar.

Uma criança com déficit de aprendizado

É rica de afeto e desejosa por abraçar.

 

Sem trejeitos nos movimentos, sem falhas na voz, 

O dito normal, encena tanto,

Que na preocupação com sua normalidade,

Já se afastou do abraço, do afago, do contato.

Sua feição está “padronizada”.

 

“A verdade” de uma pessoa com algum tipo de deficiência

Não é diferente da sua.

QI abaixo ou acima da média, 

Saber de cor a tabuada ou as capitais dos países,

Saber rir ou chorar…

 

No fim das contas, o que vale a cada um 

É o quanto se apressou em sair da margem,

É o quanto se percebeu de fato

Debaixo da camada de normalidade.

 

Perceber que a linha que separa você

Do outro fora dos padrões é ínfima.

Que talvez, tenhamos que ser aprendizes de uma criança especial.

Espíritos evoluídos os considero

E nós, engatinhando, aprendemos sobre suas entregas.

 

No fim das contas,

Estão todos de mãos dadas

Buscando entender o processo de ser gente

E, se encontrar no mundo.

 

O que vale é quanto amor se deu e recebeu.

É como sua “verdade” cooperou

Para a “verdade” do outro perder deficiências

Ganhar experiências e, nessa troca

Enobrecer as suas impecáveis imperfeições.

Gabriela Lopes

Reservas verdes, sem incêndios

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Um dia me disseram que em determinada época da vida

Jogamos água para apagar a combustão.

O calor dos gritos eloquentes da juventude

Se apagam, sem faíscas, não há incêndios.

Passamos a propagar ambientes mais favoráveis

E, talvez deixemos de habitar nos cenários inóspitos.

 

É verdade, essa época existe

E não precisa de idade certa.

Está ligada a paz, sossego e empatia.

Muitas outras coisas serão secundárias.

 

Quanto mais paz interior se tem

Mais a fornecerá aos outros.

Quanto mais se pertence,

Mais você respeitará os outros.

A intolerância às pessoas

Tem uma pitada de faltas pessoais.

 

Sempre que alguém gritar com desejo de incendiar

Entenda, o desassossego ocorre dentro dele.

Do coração calmo e do autoconhecimento

Emerge sensatez.

O silêncio tem ingredientes

Que borrifam sofisticação.

 

E por fim, o ciclo continua,

Uns querem incêndios e folhas secas,

Outros, mata verde e biodiversidade.

Cada um faz sua investida.

 

Há uma ressalva para as faíscas cotidianas,

Quando se alastrarem, o cercarão.

Sem saída, sem verde, sem folhas, sem vida.

Se controladas, restará caminhos e, talvez, alguns arbustos.

Bom mesmo é não secar a “sua terra”,

Terá reservas verdes pelo simples fato de escolher jogar água.

 

Gabriela Lopes

Uma questão de respeito na atualidade

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A ausência de características saudáveis nos rondam.

Bem perto encontramos a falta do respeito,

Parece que ele saiu para dar um passeio e não voltou mais.

Se cansou e, por lá ficou.

Séria realidade, no mínimo preocupante.

 

É assustador a defesa ao desrespeito.

Justificado pela não aceitação do outro

E a todo custo passar por cima, sair atropelando,

Porque o que importa é o eu não ficar incomodado.

Pouco importa se causar algum mal a ação do ser atormentado.

 

Tenho pouca idade, não vivi muito tempo,

Mas, com sensibilidade noto que a época está mudada.

Por aí divagam aos montes almas inertes,

Idealizando o eu acima de tudo e o respeito ficando mudo.

Será que isso não beira o absurdo?

 

Não vivi em outras épocas para saber o que se passava,

Mais uma prosa bem engajada com tios e avós

É suficiente para perceber que valores enfraqueceram ao longo das décadas.

A geração modernizou, a empatia degradou.

Se tornou bonito atos de excesso de vaidade e egoísmo.

 

Todos querem ser ouvidos, silenciando as vozes alheias.

Respeito vai além de olhar-se apenas,

É olhar o outro novamente e ressignificar.

Queres ser visto como humano de desejos importantes?

Será que a visão lançada àqueles ao seu lado tem sido o bastante?

 

Respeito vai além do silêncio na hora certa,

É reconhecer que vive em uma sociedade plural e diversa,

É se posicionar e imaginar recebendo o que lanças.

O grito no ouvido alheio deixa claro a ausência de etapas educativas.

Sem empatia, essa geração aos poucos fragmenta-se.

 

Se continuar assim e o respeito não retornar do passeio,

Restará paus e pedras no trato entre humanos.

Teremos os “paus e pedras” da reflexão de Albert Einstein,

Ele falava sobre guerra, eu ressignifico para o conflito de valores.

Ainda acredito na construção de pontes com o entulho.

 

Gabriela Lopes

 

 

Renascendo nas curvas da “sua estrada”

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Quando criança temos ânsia por crescer rapidamente

O nascituro ocorrera há poucos anos

Entretanto, a fase adulta já faz parte dos planos

 

Nascemos e choramos pelo contato com o ar e a luz

Duas coisas que serão necessárias por toda a vida

E o desconforto vem, e do escuro do ventre é chegado o momento da partida

 

Todos nascidos, frágeis criaturas

Buscam alicerces para estruturar a existência

O ar e a luz, tão essenciais, ao longo dos anos convertem-se em carência

 

Carece de renascer a criatura

Esta, já fadigada com a pouca atenção dada ao ar que seus pulmões exigem

Ou mesmo à distância da “luz” que aos seus passos corrigem

 

Renascimento; tão necessário ater-se a essa ação

Não se valer do termo somente pelo calendário Cristão

Renascer é necessário para que mais vezes bata seu coração

 

Ninguém nasce pronto para nada

Rever convicções sempre é basilar 

E a mente busca mecanismos para se regenerar

Porque afinal, todos somos pequenos

Possuidores de um corpo finito

Contudo, reconhecer que todos os dias precisamos renascer

É sem dúvida um gesto bonito

 

A estrada de cada um é como visualizar um carro à noite com luz baixa

Ilumina-se poucos metros através do farol imaginário

Cada um possui uma pequena parte relevada do seu cenário

 

Às vezes se surpreende com um buraco ou obstáculos encontrados

Tudo isso nos mostra a importância dos metros superados

Que sejas renovado enquanto dure, peço licença ao soneto de Vinicius de Moraes!

 

Com analogia feita ao soneto, é esse renovo que desejo verdadeiramente!

A cada dia, a cada hora, intensamente!

Renovando convicções, se fazendo novo constantemente!

Novo ser, novo coração, nova mente!

 

Gabriela Lopes

Do que você é possuidor?

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Recentemente vi um trecho de um livro que tocou minha alma

Sim, penso de igual modo, e direi alguns porquês com sutileza e calma!

O que de fato possuímos?

Muito facilmente todos enchem os pulmões para dizer “Meu”!

Meu pai, minha mãe, minha casa, meu bairro, minha rua!

Sentimento de posse, possuidor de tudo e de todos, quando na verdade a alma está nua!

Nas escritas de Mia Couto encontrei: “Tudo o que tenho não tem posse!”

Olha que paradoxo maravilhoso, de letreiro caprichoso!

Diz o poeta da nuvem grávida de novembro, do estilhaçar dos risos das pessoas…

Sem possuir se contempla a riqueza de muitas coisas boas!

Como todos desejam possuir, quer possuir tanto que mal se possui!

Desdenha o outro que diz possuir o que as mãos não tocam

Essa posse sim é esplendorosa!

Já pensou propagarmos posses que da maldade desfocam?

Como seria a propaganda?

Posse de amor para corações enrijecidos pela posse material

Posse de altruísmo para os que proferem que pais e amigos são sua propriedade e ponto final.

Já pensou as conquistas que teriam consigo próprios de forma multisetorial?

A pergunta inicial dessa ideia chamada poesia

Respondo agora com sinceridade e cortesia!

NADA! Isso mesmo, não possuímos nada que se toca

Temos na verdade um empréstimo que a maioria estoca

Possuímos coisas abstratas e subjetivas

Possuímos nossas experiências de vida!

Possuímos os variados sentimentos cultivados!

E eles, com práticas reiteradas deixam nossos legados!

Ainda dá tempo de mudar seu legado de possuidor de gentes e coisas!

Em outras palavras, vazio e despido!

Quem sabe propagador de sonhos e ombro amigo!

Ser possuidor de algo bom em você é acima de tudo um gesto de nobreza

Altruísmo e menos egoísmo, escolhas de uma alma desprovida de “pobreza”!

Entender que mesmo que sua carcaça seja consumida pela terra

Os legados subvertam o término da sua matéria perecível!

E não venham a deixar o histórico de uma figura desprezível!

Quem sabe ainda exista para sua lápide um texto possível,

Como: “Jaz aquele que lutou contra suas misérias e se aproximou de algo incrível.”

Gabriela Lopes

O choro dos mineiros

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Meu Deus! Quanto custa uma vida? Será que tem preço?

Com o que ando vendo, me esmoreço!

As empresas têm trocado por “moeda” a vida humana!

E do meu ser revolta e grande tristeza emana!

 

Meu Deus! Como acalentar um coração que perde um ente e chora?

Será que tem como? Ou nunca melhora?

As pessoas vendem sua alma por dinheiro e lucro

Da irresponsabilidade do homem a dignidade humana de uma região vai ao sepulcro!

 

Meu Deus! Clama aos céus tamanho horror!

Quantas vidas! Quantas perdas! Quanta dor!

Um bombeiro chora escavando a lama

Sob ela encontra uma criança agarrada a mãe

Que coração humano aguenta testemunhar tamanho drama?!

 

Meu Deus! Até onde seguirá a correnteza da desumanidade?

Devastadas vegetações, devastados corações e vidas com tamanha crueldade!

Acidente? Pelo amor de Deus! Conceituação doente!

Onde uma empresa insolente justifica a morte de gente inocente!

Seguimos em orações a cidade de Brumadinho, pelo nosso povo mineiro

Onde nós todos já cansados de injustiça ansiamos por respeito ao povo Brasileiro!

 

Na Canção precisa e profunda, Caetano Veloso canta com nome a “Mortal Loucura”, e nos diz de forma fecunda:

“Na oração, que desaterra… a terra
Quer Deus que a quem está o cuidado… dado
Pregue que a vida é emprestado… Estado
Mistérios mil que desenterra…enterra

Quem não cuida de si, que é terra…erra (…)

Já sei que a flor da formosura… usura
Será no fim dessa jornada…NADA!”

A vida é emprestada, a usura não leva a nada!

Gabriela Lopes